A Lua bate à porta

Duas luas foram intensas para mim. Ou para todo auditório

Uns ficaram muito loucos, jus

tá mente, outros tiveram desarranjos intestinais, digestórios

Só me estabilizei quando conectado ao festival das cores hindus.

Lendo o Japji, em sânscrito, às vezes tropeçando nas sílabas sem massa

quem é este eu que observa o dia nascer, a lua que se vai, a luta que recomeça?

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Má água ou mágoa

Esta dor polui rios internos

Cavernas secam e gotejam fel

Não havia compromisso ou omissa a mágoa quer calar o amargor?

Riachos dos mais inferiores seres se aproximavam como tsunami

O ataque se deu e mordeu duas vítimas ou três?

O que era para ser presente se fez passado, ruínas, abandono

Resta um gesto para mudar? Ou morta está a construção?

Se houve uma vez, haverá outras? Alertas, fiquemos.

 

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O anel do sem-número

Minha economia é um produto bruto, nem interno nem externo

Meu amor per capita tropeça na multidão do Eu, solitário “único”

Dentro de mim, há uma população residente, por faixa etária e sexo

Notificações de doenças contagiosas colocaram meus eus em leitos

Unidades básicas cadastrais ocuparam índices administrativos

Discursos de desenvolvimento garantiram a pobreza e a inação

Institutos nacionais exclusiveram postos e impostos

Eu mesmo me agropecuriei, me industrializei, me fiz serviço ou serviçal

Pra falar a verdade…: me desgovernei. Executivo de mim mesmo

me fiz guru da insatisfação, das almas penadas e desempenadas

Colocado em caçamba de serviço de limpeza, fui queimado (na

propriedade), coletado diretamente e enterrado em mil destinos

Tornei-me fundo de participação, receita orçamentária, estatística

Meus estados de ser são superintendências, organizações setoriais e

zonas francas em amplos cadastros e valores considerados aceitáveis

Em síntese, 20!$ ou *90)-=+====%.

 

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O parede

Estou explorando o Eu Boicotador. Como chamá-lo?

O Bloqueado, a Vítima, o Coitadinho. Desmilinguido. O Parede.

Est-eu se manifesta by fraqueza. Ele dissolve himself em sono

em covardia, em medo, em ansiedade, em pretensão em raiva &

Quer me proteger sob ombros arqueados o encurvamento §

a fuga ah esconderijos/a vergonha inflamará, doente

Converso com o tal. Por que você é assim? Porque me fizeram

tolo, ainda responde. É este mundo cruel, perseguidor, matador.

Mas não é você que está se matando? Pode ser, mas não consigo

mais mudar. Como não? Tente, tente, tente e tente mais uma vez.

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