VENDE-SE OU ALUGA-SE
- um coração partido
- um chuveiro de luz
- um anel de estrelas
- 2 doces de amargor
- meio moto-perpétuo
- 3 livros esquecidos
- 50 lágrimas desidratadas
VENDE-SE OU ALUGA-SE
Na verdade, existe agora
a alcunha da mentira?
Herdade, chiste, hora, vergonha, inteira
Idade, viste, embora, cegonha, videira
Dado, xisto, senhora, ergo sum, estira
Adão, penhor, ergo em mim, esteira
me tiro por ora.
Nas notícias e em casa,
menino na rua e nos eus
Estraçalhados, extirpados, meu Deus!
A violência expôs fratura dorida, sem asa
Famílias sofrem quebra em ais
mal-estares, enraivecida
Do nosso peito, alivia por favor a tristeza de casa
Era uma longa pedra escura
viscosa, que não queria descer
O rio a esperava e chegou ao mar
Era sua longa e rocha procura
Meu filho, seu lugar é neste jardim
O jardim se iluminou
Dormi a seus pés, acolhido, calmo, preenchido
em silêncio
É sal
idade, oh saldade
Não sabia como dói
Parto, pedras no rim
De doce, só o amor
Mor, morte, maldoror
Por que a gente gosta tanto de alguém?
Ou Paris fica neste planeta?
Mãe, Iemanjá, agora, já
um beijo, abraço, cheiro de mato,
do neto que chegou para nos chamar
Duas luas foram intensas para mim. Ou para todo auditório
Uns ficaram muito loucos, jus
tá mente, outros tiveram desarranjos intestinais, digestórios
Só me estabilizei quando conectado ao festival das cores hindus.
Lendo o Japji, em sânscrito, às vezes tropeçando nas sílabas sem massa
quem é este eu que observa o dia nascer, a lua que se vai, a luta que recomeça?
Esta dor polui rios internos
Cavernas secam e gotejam fel
Não havia compromisso ou omissa a mágoa quer calar o amargor?
Riachos dos mais inferiores seres se aproximavam como tsunami
O ataque se deu e mordeu duas vítimas ou três?
O que era para ser presente se fez passado, ruínas, abandono
Resta um gesto para mudar? Ou morta está a construção?
Se houve uma vez, haverá outras? Alertas, fiquemos.
As princesas estão sentadas no salão,
calmas, tranquilas, perceptivas
Estamos no Palácio da Rainha
É tudo muito lindo, indescritível
Por duas vezes, fui apresentado à Escola de Princesas
e faço aqui minha eterna reverência à sua beleza
Minha economia é um produto bruto, nem interno nem externo
Meu amor per capita tropeça na multidão do Eu, solitário “único”
Dentro de mim, há uma população residente, por faixa etária e sexo
Notificações de doenças contagiosas colocaram meus eus em leitos
Unidades básicas cadastrais ocuparam índices administrativos
Discursos de desenvolvimento garantiram a pobreza e a inação
Institutos nacionais exclusiveram postos e impostos
Eu mesmo me agropecuriei, me industrializei, me fiz serviço ou serviçal
Pra falar a verdade…: me desgovernei. Executivo de mim mesmo
me fiz guru da insatisfação, das almas penadas e desempenadas
Colocado em caçamba de serviço de limpeza, fui queimado (na
propriedade), coletado diretamente e enterrado em mil destinos
Tornei-me fundo de participação, receita orçamentária, estatística
Meus estados de ser são superintendências, organizações setoriais e
zonas francas em amplos cadastros e valores considerados aceitáveis
Em síntese, 20!$ ou *90)-=+====%.
Estou explorando o Eu Boicotador. Como chamá-lo?
O Bloqueado, a Vítima, o Coitadinho. Desmilinguido. O Parede.
Est-eu se manifesta by fraqueza. Ele dissolve himself em sono
em covardia, em medo, em ansiedade, em pretensão em raiva &
Quer me proteger sob ombros arqueados o encurvamento §
a fuga ah esconderijos/a vergonha inflamará, doente
Converso com o tal. Por que você é assim? Porque me fizeram
tolo, ainda responde. É este mundo cruel, perseguidor, matador.
Mas não é você que está se matando? Pode ser, mas não consigo
mais mudar. Como não? Tente, tente, tente e tente mais uma vez.