Meu tio: encontro com a morte

Meu tio, irmão de meu pai, apareceu atrás da cortina, vindo do escuro do quarto

suas botas em toc-toc

Parecia mais forte e os olhos eram como os do meu pai, um tanto cansados

Ele caminhou, saindo por trás da cortina e, ao passar por mim, se projetou como imagem,

desaparecendo na cozinha

Eram sete da noite e meus pais estavam sentados ali, conversando após o jantar. ]

No dia seguinte, chegou a notícia de que meu tio havia morrido

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Pesquei nas águas do meu coração

Às 3 da madrugada, acordei com este sentimento

Era um peixe que nadava em meu coração

Meu pai me ajudava a tirá-lo das águas, mas por que insistir em pescá-lo?

– Vamos apenas olhar, pai!

O peixe nadou em direções que pareciam um mapa

Mapa do tesouro? Tentei me abrir para os sinais

Havia só o brilho das escamas, o olhar anfíbio, a elasticidade líquida 

Ondas azuis cobriam o planeta

E o olhar se fundiu com a estrela

 

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Evocação de território

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A voz vai ao tempo

Mestre do corpo e do espírito

rogar de volta o transpaís ou ultramundo

Ali uma essência mais alta

resgatada do sempre

Quintal desse território 

Coqueiros, sapos e porcos

o urinol sob a rede, asas do pássaro noturno

O sapo ainda pisado hoje, décadas depois

Macio, terno, como bolo frito de tapioca

E meu avô sempre contando suas histórias

Navegar é preciso, fazer curvas nem sempre

O barquinho ondeia, o zoom da máquina tenta capturá-lo

Se navegar é preciso, como diz o poeta, fazer curvas também

Nunca estive tão pronto para mergulhar, mas nem sei nadar direito

Eita caboclo torto! Sou ser do mar, não da terra

Meus pés anseiam água de sal

Deixei o naufragar para o meu coração

E ele recebeu de bom grado, indicando

o “sim” dos sinais digitais. 

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