Meu tio: encontro com a morte

Meu tio, irmão de meu pai, apareceu atrás da cortina, vindo do escuro do quarto

suas botas em toc-toc

Parecia mais forte e os olhos eram como os do meu pai, um tanto cansados

Ele caminhou, saindo por trás da cortina e, ao passar por mim, se projetou como imagem,

desaparecendo na cozinha

Eram sete da noite e meus pais estavam sentados ali, conversando após o jantar. ]

No dia seguinte, chegou a notícia de que meu tio havia morrido

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Navegar é preciso, fazer curvas nem sempre

O barquinho ondeia, o zoom da máquina tenta capturá-lo

Se navegar é preciso, como diz o poeta, fazer curvas também

Nunca estive tão pronto para mergulhar, mas nem sei nadar direito

Eita caboclo torto! Sou ser do mar, não da terra

Meus pés anseiam água de sal

Deixei o naufragar para o meu coração

E ele recebeu de bom grado, indicando

o “sim” dos sinais digitais. 

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