Sentado na praça, o futuro escritor Gabriel Garcia Marquez, muito jovem, carregando livros na cabeça, contou:
– Mal começávamos a vislumbrar o perfil de algumas cúpulas de igrejas e conventos na bruma do entardecer, quando saiu ao nosso encontro um vendaval de morcegos.
Suas asas zuniam como um tropel de trovões e deixavam à sua passagem uma pestilência de morte.
Surpreendido pelo pânico, soltei a maleta e me encolhi no chão com os braços na cabeça, até que uma mulher mais velha que caminhava ao meu lado gritou para mim:
– Reze A Magnífica. Ou seja: a oração secreta para esconjurar assaltos do demônio. Reze comigo. Mas com muita fé, por favor! – disse ela.
Eram as respostas de Deus.
Gabriel ou Gabo, feito anjo, repetiu os versos da oração, seguindo a velha concentrada e decidida
com uma devoção que nunca havia sentido ou voltou a sentir.
O tropel de morcegos desapareceu do céu antes que terminassem de rezar.
“Só restou então o imenso estrondo do mar nos rochedos e nos recifes”, arrematou.
O escritor e jornalista estava, naquela ocasião delicada, nas cercanias de Cartagena das Índias, Colômbia.
E escapuliu muito bem do “demo” (cruz credo). Artes de um grande escritor!